O Caminho da Cruz
Uma pregação baseada em Lucas 9:51-56
de Dennis Downing

Lucas 9:51-56
E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou, no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém e enviou mensageiros que o antecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe preparar pousada.

Mas não o receberam, porque o aspecto dele era de quem, decisivamente, ia para Jerusalém.

Vendo isto, os discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir?

Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E seguiram para outra aldeia.

A frase “Assunto ao céu” = inclui a morte, ressurreição e ascensão de Cristo

Jesus já sabia que ia morrer e já havia anunciado aos discípulos, dizendo:
É necessário que o Filho do Homem sofra muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas; seja morto e, no terceiro dia, ressuscite. Lucas 9:22 (ARA)

Ao se dirigir a Jerusalém, Jesus sabia que estava indo à cruz.

Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Lucas 9:23 (ARA)

Jesus sabia o que ia acontecer com ele em Jerusalém.
Mas, ele sabia também que isso era a vontade do Pai.

Foi por isso que ele determinou que ia para Jerusalém e nada iria impedi-lo.
A primeira pergunta que esta passagem provoca para nós é a seguinte: Qual a minha atitude em relação à vontade de Deus?

Eu encaro a vontade de Deus com determinação?
Estou pronto para fazer o que Deus quer, mesmo que vá doer ou custar caro?
Qual a minha atitude quando a vida Cristã começa a ficar difícil?

Veja como Jesus estava determinado a ir até a cruz, porque era a vontade de Deus.

Hoje, qualquer obstáculo ou problema e já ficamos “Ah, não, Deus. Essa não. Por favor, misericórdia.”
– Não agüento mais aquela professora da escola dominical.
– Não aceito ouvir mais nada sobre coleta.
– Não agüento ficar mais só; tenho que arranjar namorada, mesmo não-cristã.

Por qualquer motivo, começamos a questionar a vontade de Deus.

Jesus, ao saber que a hora havia chegado, decidiu ir até a sua morte – e morte de cruz.

Hebreus 12:2 nos diz “olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.”

No contexto desta passagem, Jesus estava na Galiléia, região onde ele passou boa parte do seu ministério. Para chegar até Jerusalém, Jesus teve que passar por Samaria.

Para chegar em Jerusalém ele podia passar para o outro lado do Jordão e descer pela Peréia. Mas, esta seria uma viagem bem mais longa. Ele escolheu passar pela Samaria. Esta viagem levaria uns 3 dias.

Lucas 9: 52-53 “e enviou mensageiros que o antecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe preparar pousada. Mas não o receberam, porque o aspecto dele era de quem, decisivamente, ia para Jerusalém.”

Jesus pediu para seus discípulos irem preparar um lugar para comer e dormir.
A passagem não diz, mas, provavelmente eles iam pagar.
Mesmo assim, o povo da aldeia não queria recebê-los.

A tradução da Revista e Atualizada dá a entender que ele não foi recebido por causa do aspecto dele, “porque o aspecto dele era de quem, decisivamente, ia para Jerusalém.

A NVI traduz melhor quando diz “mas o povo dali não o recebeu porque se notava que ele se dirigia para Jerusalém.

O povo da aldeia nem viu Jesus, apenas soube que ele ia para Jerusalém.
Mas isto era o suficiente.
Não aceitaram que ele ficasse lá – por quê?
Porque ele ia para Jerusalém.

É preciso entender que havia um antigo conflito entre os judeus e os samaritanos.
Os judeus diziam que os samaritanos eram judeus que se misturaram com outros povos e assim perderam sua linhagem como judeus fiéis.

Em seu livro “Jerusalém No Tempo De Jesus”, o perito Joaquim Jeremias relata a situação social de várias camadas do povo na época de Cristo, a começar pelo clero; depois, os israelitas de origem pura; seguidos pelas “profissões desprezíveis”, como escravos judeus, Israelitas ilegítimos, escravos pagãos e finalmente os samaritanos.

A respeito deste grupo Jeremias relata “Descendo ao último degrau, chegamos aos samaritanos. Durante o período pós-bíblico, a atitude dos judeus para com seus vizinhos, os samaritanos, povo judeu-pagão mesclado, passou por fortes variações e por vezes mostrou-se nada comedida. … Do começo do século II antes de nossa era, temos o testemunho das palavras cheias de ódio de Eclesiástico 50:25-26: ‘Há duas nações que minha alma detesta e uma terceira que nem sequer é nação [cf. Dt 32,21] : os habitantes da montanha de Seir, os filisteus e o povo estúpido [cf. Dt 32,31] que mora em Siquém’ (ou seja, os samaritanos). No que diz respeito ao período imediatamente anterior a 150 a.C., Josefo nos fala de uma disputa religiosa entre os judeus do Egito e os samaritanos, apresentada a Ptolomeu Filometor (181-145 a.C.): tratava-se da rivalidade entre os dois santuários de Jerusalém e do Garizim. Foi durante o governo do asmoneu João Hircano (134-104 a.C.) que as tensões assumiram maiores proporções; pouco depois da morte de Antíoco VII (em 129), Hircano apoderou-se de Siquém e destruiu o templo de Garizim 5. Não é de admirar que, a seguir, o ambiente se tenha mantido carregado de ódio.” (Aqui Jeremias cita a obra Testamento de Levi VII 2 “A partir de hoje [isso é dito a propósito de Gn 34,25-29], Siquém (ou seja, a cidade dos samaritanos) será chamada a cidade dos idiotas, porque nós zombamos deles como se zomba de um louco”.) – Joaquim Jeremias “Jerusalém No Tempo de Jesus”, 3a edição São Paulo: Editora Paulus, 1983 pp. 464-5.

Com esta citações históricas, dá para imaginar como era a tensão entre o povo judeu e o povo samaritano na época de Cristo.

Os samaritanos diziam que os judeus é que foram infiéis a Deus e que eles haviam abandonado a lei de Moisés. Os judeus diziam que o lugar certo para adorar a Deus era Jerusalém. Os Samaritanos diziam que era Gerazim. E assim por diante ia o conflito.

Para se ter uma idéia do quão forte eram os sentimentos, era um insulto para um judeu chamar outro de “samaritano”.

Responderam, pois, os judeus e lhe disseram: Porventura, não temos razão em dizer que és samaritano e tens demônio? João 8:48 (ARA)

A mulher Samaritana, no poço de Jacó pergunta a Jesus: “Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se dão com os samaritanos)?João 4:9

Dá para imaginar como era o sentimento entre esses dois povos. Sabendo deste sentimento, entendemos a reação dos discípulos quando sabem que seu pedido de hospitalidade foi negado.

Lucas 9:54 Vendo isto, os discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir?

Para os discípulos, os samaritanos deviam se sentir privilegiados em ter Jesus, um judeu hospedado lá. A recusa por parte dos samaritanos em recebê-lo caiu como um insulto para eles.

** Você já tentou evangelizar algum parente, amigo, colega, e levou um fora? Como você se sentiu?

Ou talvez você foi tentar ajudar um irmão, ou irmã e foi rejeitado?
Como você se sentiu?

Imagine Jesus, que pede um pouco de hospitalidade do povo a quem ele deu vida, e para o qual em pouco tempo dará a sua própria vida.
Ele está indo para se sacrificar por este povo, e nem hospedagem querem dar a ele?

Tiago e João expressam o que muitos de nós já sentimos.
Nós vamos encontrar pessoas nesta vida que não querem saber de Jesus.
Ou, vamos encontrar pessoas com costumes ou tradições espirituais diferentes.

Como os discípulos encontraram nos samaritanos um povo que adorava a Deus num lugar (para eles) estranho – nós também encontraremos pessoas que adoram a Deus de forma que, para nós, é estranha.

Ou usam um nome diferente na igreja onde congregam.
Ou usam uma tradução da Bíblia diferente que a nossa.
Ou louvam a Deus de forma diferente.
Ou realizam a ceia de forma ou frequência diferente.

O que é que nós vamos fazer?
Como é que nós vamos reagir?

A atitude dos discípulos foi decisiva.
– Que queimem!
– Pro inferno com eles!
– Querem viver na ignorância, então que morram assim!

O problema é que a atitude dos discípulos ignora a instrução e o exemplo de Jesus – o próprio Senhor que eles pensaram estar defendendo!
Eles, que deviam saber o que Deus queria, queriam fazer justamente o contrário.

Jesus já havia dado ordens aos discípulos em relação à rejeição.
Lucas 9:5E onde quer que não vos receberem, ao sairdes daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés em testemunho contra eles.

Era um ato simples que significava entregar aquela cidade ao juízo.
Mas, era o juízo de Deus, e não dos homens.

Esta foi a instrução de Jesus dada talvez dias antes.
É assim que Deus disse que deviam tratar as pessoas que os rejeitavam.

Foi assim que os discípulos reagiram? Não!

Evidentemente, eles queriam condenar os samaritanos pela falta de hospitalidade, e talvez por seus costumes religiosos estranhos.
Mas, eles também desobedeceram a Deus na maneira que reagiram.

Os que se achavam certos, e querendo concertar os outros, também estavam errados.

** Será que nós não fazemos a mesma coisa?
Você já se viu como juiz também?

Talvez você nunca quis que Deus queimasse alguém.
Mas, você já decretou em seu coração, ou já pronunciou as palavras de condenação de outra pessoa?

O centro do conflito entre os dois grupos, na sua essência, era: o Deus espera, como adorá-lo e como serví-lo da forma como Ele quer. Da parte dos Samaritanos, parece que também não entenderam quem Jesus era, e consequentemente não Lhe deram a devida consideração.

Porque os samaritanos não entenderam bem estas coisas, eles não receberam Jesus.
E foi por essa falha de entendimento que os discípulos condenaram os samaritanos.
Mas, Jesus não estava pronto para condená-los.

Será que nós já fizemos algo parecido?
Será que nós já decretamos a condenação de pessoas que Deus ainda não está pronto para condenar?

Não pedimos que descesse fogo, mas, já pronunciamos que é para o fogo que aquela pessoa vai.
Já sentiu isso?
Já reagiu assim?
Já tratou ou retratou outra pessoa ou grupo de pessoas assim?

Qual foi a reação de Jesus?
Jesus repreendeu os discípulos, e depois continuou com a missão dEle.

Lucas 9:55-56 Jesus, porém, voltando-se os repreendeu [e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las]. E seguiram para outra aldeia.

Note quem Jesus repreendeu.
Foi os discípulos.
Se os samaritanos erraram ao não receber Jesus, os discípulos também erraram em querer condená-los.

Às vezes nós queremos corrigir outras pessoas, consertar erros, mostrar para os outros o que Deus quer, e na nossa maneira de fazer isso, nos tornamos tão errados quanto os que condenamos.

Jesus não defendeu os samaritanos, mas, também ele não aceitou a atitude dos discípulos.
Ele os repreendeu.

Aí, ele lhes mostrou para onde deviam estar olhando, e com o que deviam estar se preocupando.

Por que é que muitas vezes nós nos envolvemos em tentar caçar os erros dos outros, em consertar falhas, em corrigir “injustiças”?

Porque estamos evitando a cruz nas nossas próprias vidas.

Jesus tinha seus olhos fixos na cruz dEle.

Ele sabia muito bem o que Deus queria que Ele fizesse naquela hora, e não era consertar erros ou castigar falhas – era ir até a cruz.

Será que há uma cruz na sua vida, na sua frente que você está evitando?

Pode ter certeza, a partir do momento que você começa a se preocupar com algum erro na vida dos outros, com alguma falha numa outra pessoa, ou num outro grupo, é bem provável que haja uma cruz no horizonte que você está evitando.

Você está desviando seus olhos da sua própria cruz.
Esse desejo de consertar os outros, de fazer “justiça” pode nos levar, muitas vezes, a cometer injustiças em nome de Deus.

O que nós chamamos de justiça, muitas vezes não é,
– é vingança,
– é retribuição por sentimentos mesquinhos e pessoais,
– é o desejo egoísta de ver prevalecer a nossa opinião,
– é o desejo igualmente egoísta de ver o nosso grupo prevalecer e “ganhar” alguma “vitória” sobre outro grupo.

Aplicação:
Como é que nós podemos evitar esse erro?
– Concentrando naquilo que Deus nos enviou para fazer.
– Observando, meditando em Jesus e nas atitudes dEle.
– Examinando a nós mesmos e aplicando a Palavra de Deus primeiramente e com mais rigor às nossas próprias vidas.
– Imitando Jesus – fixando nossos olhos na nossa própria cruz.

Você já identificou o perfil da cruz de Cristo na sua vida?
Quais os atos diários que compõem o tomar da sua cruz?

Quando você identifica alguém ou algum grupo “diferente”, qual a sua atitude para com eles?
Evitá-los? Condená-los no seu coração? Falar mal deles?
Já tentou orar por eles?
Já pensou em plantar alguma semente e ver se algo brota?

A tendência seria muito grande de Jesus rejeitar todo o povo Samaritano, como representantes daquele povo que o rejeitou.
Mas, logo em seguida, ele elogiou o mesmo povo que o rejeitou horas, ou no máximo dias antes.

Em Lucas 10:25-37 Jesus contou a história da única pessoa a ajudar um homem que sofreu um assalto. A gente conhece como história do “Bom… ?” Sim, isso mesmo, o “Bom Samaritano”.

Já ficou decepcionado com colegas que não queriam ir à igreja?
Já ficou frustrado com parentes que não queriam estudar a Bíblia?
Como é que você se sente quando seus filhos não querem saber da igreja ou de falar das coisas de Deus?

Qual a sua atitude para com outras pessoas ou outros grupos que se chamam de Cristãos, mas, cujos costumes são diferentes dos de seu grupo?

Lembre a atitude de Jesus e a reação dos Samaritanos depois:
João 4:39-40 Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto tenho feito. Vindo, pois, os samaritanos ter com Jesus, pediam-lhe que permanecesse com eles; e ficou ali dois dias. (Será que foi para essa cidade que Jesus seguiu naquele dia?)

Atos 8:14 Ouvindo os apóstolos, que estavam em Jerusalém, que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João;

A palavra “receber” (dechomai) é a mesma que Lucas 9:53 “Mas não o receberam”.
Agora os Samaritanos receberam a Palavra e se converteram.
(Imagine a reação deles se Jesus tivesse queimado aquela cidade.)

Os discípulos de Jesus, aqueles que estão no caminho da cruz, têm uma perspectiva diferente.
Por onde eles olham eles vêem a sombra da cruz.

Por onde eles andam, eles sempre enxergam, no horizonte, o fim da vida deles.

E, nas outras pessoas ao seu redor, eles não vêem objetos de rancor ou revolta; eles não sentem o desejo de fazer justiça, porque sabem que a verdadeira justiça, temperada com misericórdia, pode ser exercida somente pelo Senhor da Cruz.

Que as nossas vidas, ações e reações, sejam sempre um testemunho fiel de que estamos no Caminho da Cruz. E que, cada vez mais pessoas possam ver o Senhor da Cruz em nós e em nossas vidas.

Que Deus nos abençoe.

 

Veja também ““O Controle Remoto e a Cruz””.


Copyright © 2011 Dennis Downing. Todos os direitos reservados. Reprodução só com permissão por escrito.

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