Devo Aprender A Como Interpretar A Bíblia? Parte 6 – Determine Como Símbolos, Costumes e Metáforas funcionam nas Escrituras e na Cultura Atual

DEVO APRENDER A COMO INTERPRETAR A BÍBLIA?
(Continuação)

de D. A. Carson

Princípio VII
Determine Não Somente Como Os Símbolos, Costumes, Metáforas E Moldes Funcionam Nas Escrituras, Mas Também A Que Mais Eles Estão Atrelados.

Concordamos com as conclusões já alcançadas sobre pano de saco e cinzas, e sobre ósculo santo. Mas é, então, aceitável levar um grupo de jovens em uma igreja na Califórnia a celebrar a ceia do Senhor usando coca-cola e salgadinho? E quanto a batata e leite de cabra na Nova Papua Guiné? Se no último caso nós usamos pão e vinho, não estamos sutilmente insistindo que apenas a comida de estrangeiros brancos é aceitável a Deus?

O problema não diz respeito apenas às condições de membros da igreja, mas também de teoria lingüística. Tradutores da Bíblia continuamente enfrentam tais situações. Como deveremos traduzir “pão” e “vinho” nas palavras da realização (da ceia)? Ou considere um texto como Is 1:18: “ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã”. Suponha que o grupo alvo para ao qual você está traduzindo a Bíblia viva na região chuvosa equatorial e nunca viram a neve: seria melhor mudar a símile? Suponha que a única “lã” que eles já viram é aquele tecido sujo acinzentado extraído de cabras? Não seria possível que uma tradução “fiel” talvez fosse enganosa, enquanto que mesmo assim estivesse sendo uma tradução culturalmente sensível que é, contudo, mais distante do original no processo em comunicar o ponto que Deus estava falando de Isaías?

Tem muito que pode ser dito a favor deste tipo de flexibilidade. Certamente no caso da “neve”, não é muito que está em jogo. Talvez você queira verificar as outras sete ocorrências bíblicas de “alvo como a neve”, a fim de certificar-se de que você não está inadvertidamente entrando em um conflito estranho ou algo assim. Mas no caso do pão e vinho na Ceia do Senhor, a situação é mais complicada. Isto é porque os elementos da ceia estão ligados com outras ramificações da Bíblia, e é quase impossível os separar delas. Fazer a mudança de “pão”, digamos, em “batata”, a fim de evitar qualquer imperialismo cultural; o que faremos então com as conexões entre a Ceia do Senhor e a Páscoa, onde apenas “pão ázimo” deveria ser comido: podemos então falar de “batata ázima”?! E quanto a conexão entre o pão e o maná, e depois a conexão feita mais tarde entre pão/maná e Jesus (João 6)? Jesus agora se torna então em a batata de Deus (digo isto com reverência)? E eu ainda nem comecei a esgotar as complicações conectadas com este texto.

Então, o que começou como um esforço de caridade em uma comunicação intercultural está levando em direção a problemas maiores interpretativos um pouco mais além. Além do mais, as traduções da Bíblia têm uma vida na estante muito mais longa do que os tradutores do original geralmente pensam. Cinqüenta anos mais tarde, uma vez que a tribo se tornou um pouco mais familiarizada com culturas além de suas florestas, e parece melhor, em uma revisão, retornar a um grau maior de literalismo, depois, tente-se mudar “batata” em “pão” e veja que tipo de briga eclesiástica irá estourar.

Todos estes tipos de problemas estão atrelados ao fato de que Deus não nos deu uma revelação culturalmente neutra. O que ele revelou em palavras está necessariamente ligado a lugares e culturas. Todas as outras culturas terão que fazer algum tipo de trabalho em entender o que Deus quis dizer quando ele falou certas coisas em uma certa língua, em uma época especifica e num lugar e num idioma em mutação. No caso de certas expressões, um idioma análogo poderá ser o melhor meio de traduzir alguma expressão. Em outras expressões, especialmente aquelas que estejam profundamente ligadas a outros elementos na cronologia da Bíblia, seria melhor traduzir as palavras mais literalmente, e então talvez, incluir uma nota de roda-pé. Neste caso, por exemplo, seria mais sábio dizer que “pão” era o alimento básico das pessoas naquela época, assim como é a batata para nós. Uma ligeira nota de roda-pé teria que ser incluída quando fermento ou levedura fossem introduzidos.

Não há quase nada que possa ser dito em favor dos jovens da Califórnia que usaram salgadinhos e coca-cola como os elementos da Ceia. (Temo que este não seja um exemplo fictício). Ao contrário das pessoas da floresta amazônica, eles nem sequer têm ao seu favor que eles já tenham ouvido falar de pão. Nem pode se dizer que salgadinhos e coca-cola seja parte da dieta básica deles, embora talvez alguns estejam indo nesta direção. O que isto representa é o capricho daquilo que é novidade, o amor do iconoclástico, a espiritualidade do belo, sem nenhuma conexão nem com a Ceia do Senhor, ou com dois mil anos de história da igreja.


Veja também “Examine Cuidadosamente a Explicação Bíblica Para Qualquer Afirmação ou Mandamento”


 Copyright © 1996 Modern Reformation Magazine. Todos os direitos reservados. Reproduzido com a devida autorização.  

O Dr. D. A. Carson ensina Novo Testamento na Trinity Evangelical Divinity School e tem mais de vinte livros do seu próprio punho, entre as quais em português temos: “Comentário do Evangelho de João” da Shedd Publicações e “Os Perigos da Interpretação Bíblica” e “Introdução ao Novo Testamento” (co-editado com Douglas Moo e Leon Morris), ambos da Editora Vida Nova.


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