A PRIMEIRA TAREFA: A EXEGESE

de Gordon Fee e Douglas Stuart

A primeira tarefa do intérprete chama-se exegese. A exegese é o estudo cuidadoso e sistemático da Escritura para descobrir o significado original que foi pretendido. A exegese é basicamente uma tarefa histórica. É a tentativa de escutar a Palavra conforme os destinatários originais devem tê-la ouvido; descobrir qual era a intenção original das palavras da Bíblia. Esta é a tarefa que freqüente-mente exige a ajuda do “perito,” aquela pessoa cujo treinamento a ajudou a conhecer bem o idioma e as circunstâncias dos textos no seu âmbito original. Não é necessário, no entanto, ser um perito para fazer boa exegese.

Na realidade, todos são exegetas dalgum tipo. A única questão real é se você vai ser um bom exegeta. Quantas vezes, por exemplo, você ouviu ou disse: “O que Jesus queria dizer com aquilo foi…” “Lá naqueles tempos, tinham o costume de .. .”? São expressões exegéticas. São empregadas mais freqüente-mente para explicar as diferenças entre “eles” e “nós” — por que não edificamos parapeitos em redor das nossas casas, por exemplo, ou para dar uma razão do nosso uso de um texto de uma maneira nova ou diferente — por que o aperto da mão freqüentemente tomou o lugar do “ósculo santo.” Até mesmo quando tais idéias não são articuladas, são, na realidade, praticadas o tempo todo de um modo que segue o bom-senso.

O problema com boa parte disto, no entanto, é (1) que tal exegese freqüentemente é seletiva demais, e (2) que freqüentemente as fontes consultadas não são escritas por “peritos verdadeiros,” ou seja: são fontes secundárias que também empregam outras fontes secundárias, ao invés das fontes primárias. São necessárias umas poucas palavras acerca de cada um destes problemas:

1. Embora todos empreguem exegese nalgumas ocasiões, e embora muito freqüentemente semelhante exegese seja bem feita, mesmo assim, tende a ser empregada somente quando há um problema óbvio entre os textos bíblicos e a cultura moderna. Posto que realmente deve ser empregada para tais textos, insistimos que é o primeiro passo ao ler TODO texto. De início, isto não será fácil de fazer, mas aprender a pensar exegeticamente pagará ricos dividendos no entendimento, e tornará a leitura, sem mencionar o estudo da Bíblia, uma experiência muito mais emocionante. Note bem, no entanto: Aprender a pensar exegeticamente não é a única tarefa; é simplesmente a primeira tarefa.

O problema real com a exegese “seletiva” é que a pessoa freqüentemente atribuirá suas próprias idéias, completamente estranhas, a um texto e, assim, fará da Palavra de Deus algo diferente daquilo que Deus realmente disse. Por exemplo, um dos autores deste livro recentemente recebeu uma carta de um evangélico bem conhecido, que argumentou que o autor não deveria comparecer a uma conferência juntamente com outra pessoa bem conhecida, cuja ortodoxia era algo suspeita. A razão bíblica dada para evitar a conferência foi 1 Tessalonicenses 5.22: “Abstende-vos de toda forma do mal”. Se, porém, nosso irmão tivesse aprendido a ler a Bíblia exegeticamente, não teria usado o texto dessa maneira. Ora, 1 Ts. 5:22 foi a palavra final de Paulo num parágrafo aos tessalonicenses a respeito das expressões carismáticas na comunidade. “Não tratem as profecias com desprezo”, diz Paulo. “Pelo contrário, testem tudo, e apeguem-se ao que é bom, mas evitem todas as formas malignas.” “Evitar o mal” tem a ver com “profecias,” que, ao serem testadas, revelam-se não serem do Espírito. Fazer este texto significar alguma coisa que Deus não pretendeu é abusar do texto, não usá-lo. Para evitar erros deste tipo, devemos, aprender a pensar exegeticamente, ou seja: começar no passado, lá e então, e fazer assim com todos os textos.

2. Conforme logo notaremos, não se começa consultando os “peritos.” Mas quando for necessário fazê-lo, devemos procurar usar as melhores fontes. Por exemplo, em Marcos 10.23 (Mt. 19.23; Lc 18.24), no término da história do jovem rico, Jesus diz: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” Passa a acrescentar: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.” Freqüentemente se diz que havia uma porta em Jerusalém chamada o “Fundo da Agulha,” pela qual os camelos somente poderiam atravessar de joelhos, e com grande dificuldade. A lição desta “interpretação” é que um camelo poderia realmente passar pelo “Fundo da Agulha.” O problema desta “exegese,” no entanto, é que simplesmente não é verdadeira. Nunca houve semelhante porta em Jerusalém, em qualquer período da sua história. A primeira “evidência” que se conhece em prol de tal idéia é achada no século XI d.C. (!), num comentário de um eclesiástico grego chamado Teofilacto, que tinha a mesma dificuldade com o texto que nós temos. Afinal das contas, é impossível para um camelo passar pelo fundo de uma agulha, e era exatamente o que Jesus queria ensinar. É impossível para alguém que confia nas riquezas entrar no Reino. É necessário um milagre para uma pessoa rica receber a salvação, o que é certamente a lição das palavras que se seguem: “Para Deus tudo é possível.”

Veja também pelos mesmos autores: A NATUREZA DA ESCRITURA – O Lado Divino

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O livro de Gordon D. Fee e Douglas Stuart do qual este texto foi extraído, “Entendes o que Lês?“, pode ser encomendado da Edições Vida Nova
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