Não Foi Acidente
de Max Lucado
Ela contém todos os ingredientes de uma boa ilustração para um sermão. E emocional. E dramática. E é uma história que quebrantará o coração. Só o céu sabe quantas vezes os pregadores fizeram uso dela.
Só há um problema. Ela não é exata.
Você talvez já a tenha ouvido.
Trata-se da história de um engenheiro que operava uma ponte sobre um rio caudaloso. Com um painel de controle com alavancas e chaves, ele punha em movimento um conjunto monstruoso de engrenagens que levantavam a ponte para o trânsito no rio ou a fechavam para a passagem do trem.
Ele levou certo dia o filho para compartilhar do seu trabalho.
O garoto fascinado fazia pergunta após pergunta ao pai. Não foi senão depois que a ponte levantara para permitir a passagem de um navio que o pai notou que as perguntas do filho haviam cessado e ele saíra do recinto. Olhou pela janela de sua cabine de controles e viu o garoto subindo nos dentes das engrenagens. Ao encaminhar-se em direção ao mecanismo para salvar o filho, o homem ouviu o apito de um trem que se aproximava.
Seu pulso acelerou. Se fechasse a ponte não haveria tempo para salvar o filho. Ele teve de fazer uma escolha. Ou o filho morreria ou um trem cheio de inocentes passageiros encontraria a morte. Um horrível dilema exigia uma horrível decisão. O engenheiro sabia o que tinha de fazer. Ele estendeu o braço para a alavanca.
Uma história forte, não é? Ela é muitas vezes usada para descrever o sacrifício de Cristo. E tem seus paralelos. E verdade que Deus não podia salvar o homem sem matar seu filho. O coração de Deus Pai torceu-se em dores ao baixar as alavancas da morte sobre Jesus. Também triste, mas verdadeiro, é que os inocentes passaram pela cena do crime indiferentes ao sacrifício que acabara de salvá-los da morte certa.
Mas existe uma inferência na história que precisa lamentavelmente de correção.
Leia esta citação do primeiro sermão pregado sobre a cruz e veja se pode encontrar a frase reveladora.
“Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós, com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis; sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos.”[1]
Você percebeu? E a frase solene no parágrafo. É a declaração que mostra coragem, aquela cujas raízes se estendem até a eternidade. E a frase, que talvez mais que outra qualquer na Bíblia, descreve o preço real que Deus pagou para adotar você.
Que frase? “Determinado desígnio e presciência de Deus;” Outras versões dizem “o plano definido e presciência de Deus” ou “De acordo com o seu plano”. Não importa como seja a frase, a verdade impressiona. A cruz não foi um acidente.
A morte de Jesus não resultou de um engenheiro cosmológico em pânico. A cruz não foi uma surpresa trágica. O Calvário não foi a reação nervosa a um mundo mergulhando verticalmente para a destruição. Não foi um remendo ou o fechamento de uma brecha. A morte do Filho de Deus podia ter sido tudo menos um perigo inesperado.
Ela fez parte de um plano. Foi uma escolha calculada. “Ao Senhor agradou moê-lo.”[2] A cruz foi desenhada na planta original. Foi introduzida no “script”. No momento em que o fruto proibido tocou os lábios de Eva, a sombra da cruz apareceu no horizonte. Entre esse momento e o momento em que o homem com o martelo colocou o cravo no pulso de Deus, um plano-mestre foi cumprido.
O que isso significa? Significa que Jesus planejou o seu próprio sacrifício.
Significa que Jesus plantou deliberadamente a árvore da qual a sua cruz seria esculpida.
Significa que ele colocou intencionalmente o minério de ferro no coração da terra, do qual os pregos seriam feitos.
Significa que ele colocou Judas voluntariamente no útero de uma mulher.
Significa que Cristo foi quem pôs em movimento a máquina política que enviaria Pilatos a Jerusalém.
Significa também que ele não tinha de fazer isso — mas fez.
Não foi acidente — quem dera que fosse! Até o mais cruel dos criminosos é poupado da agonia da sentença de morte lida para ele antes de sua vida sequer começar.
Mas Jesus nasceu crucificado. Quando ele se tornou consciente de quem era, também tomou consciência do que tinha a fazer. A sombra em forma de cruz sempre podia ser vista. E os gritos dos prisioneiros do inferno sempre podiam ser ouvidos.
Isto explica o brilho de determinação em seu rosto quando voltou-se e seguiu para Jerusalém pela última vez. Ele estava marchando para a morte.[3]
Isto explica a resolução das palavras, “Por isso o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou”.[4]
Ela explica a pergunta enigmática, “Isto vos escandaliza? Que será, pois, se virdes o Filho do homem subir para o lugar onde primeiro estava?”[5]
A cruz explica…Porque ele disse aos fariseus que o “alvo” de sua vida seria cumprido apenas no terceiro dia depois de sua morte.[6]A misteriosa aparição de Moisés e Elias no Monte da Transfiguração, a fim de discutir sua “partida”.[7] Eles vieram para oferecer uma última palavra de encorajamento.Porque João Batista apresentou Jesus às multidões como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”[8]
Talvez seja por isso que ele arrancou a relva pela raiz no Getsêmani. Ele sabia o inferno que teria de suportar ao dizer, “Seja feita a tua vontade”.
Talvez a cruz seja a razão por que ele amava tanto as crianças. Elas representavam justamente o que ele teria de dar: Vida.
Ela acrescenta gravidade às suas profecias, “Dou a minha vida pelas ovelhas”.[9] “Começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto, e ressuscitado no terceiro dia.”[10]
A referência à pedra rejeitada,[11] a unção para o sepultamento,[12] a despedida de Judas na Ultima Ceia.[13] Todos esses incidentes tomam dimensões sérias ao ser considerada a iminência da cruz. Nosso Mestre viveu uma vida tridimensional. Ele tinha uma visão tão clara do futuro quanto do presente e passado.
Essa a razão pela qual as cordas usadas para amarrar suas mãos e os soldados chamados para levá-lo até a cruz eram desnecessários. Eles eram incidentais. Se não estivessem ali, se não tivesse havido julgamento, nem Pilatos nem multidão, a mesma crucifixão teria ocorrido. Se Jesus tivesse sido forçado a pregar a si mesmo na cruz, ele o teria feito. Pois não foram os soldados que o mataram, nem os gritos do povo: Foi a sua devoção por nós.
Chame então como quiser: Um ato de graça. Um plano de redenção. O sacrifício de um mártir. Mas o que quer que chame, não chame de acidente. Pode ter sido tudo menos isso.
[1] Atos 2:22,23; [2] Isaías 53:10; [3] Lucas 9:51; [4] João 10:17,18; [5] João 6:61,62; [6] Lucas 13:32; [7] Lucas 9:31; [8] João 1:29; [9] João 10:15; [10] Mateus 16:21; [11] Mateus 21:42; [12] Marcos 14:3-9; [13] João 13:27
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O livro de Max Lucado do qual este capítulo foi extraído,
“Deus Chegou Mais Perto”, pode ser encomendado da Editora Vida Cristãselecionando a capa do livro ao lado: