Ambição Cega
de Max Lucado
A cena é quase fantasmagórica: uma torre alta, inacabada, assomando solitária numa planície poeirenta. Sua base é larga e forte, mas coberta de mato. Pedras grandes que deveriam ter sido originalmente usadas na torre jazem esquecidas no solo. Baldes, martelos e roldanas — tudo ficou abandonado. A silhueta projetada pela estrutura é esguia e solitária.
Há muito tempo, esta torre vibrava de atividade. Um curioso teria ficado impressionado com a construção bem organizada do primeiro arranha-céu do mundo. Um grupo de operários fazia a argamassa. Outra equipe tirava os tijolos do forno. Um terceiro grupo levava os tijolos para o lugar da construção enquanto um quarto carregava a carga por um caminho sinuoso até o alto da torre, onde ela era colocada firmemente no lugar.
Um formigueiro humano. Cada trabalhador conhecia o seu trabalho e o realizava a contento.
O sonho deles era uma torre. Uma torre maior do que ninguém jamais sonhara. Uma torre que furaria as nuvens e arranharia o céu. E qual o propósito dessa torre? Dar glória a Deus? Não. Tentar encontrar Deus? Não. Chamar o povo para que levantasse os olhos para Deus? Tente outra vez. Preparar um lugar celestial de oração? Ainda errado.
O propósito do trabalho causou sua eventual interrupção. O método estava certo. O plano era eficaz. Mas o motivo estava errado. Completamente errado. Leia essas minutas da “Reunião do Comitê de Planejamento da Torre” e veja oque quero dizer:
“Vinde, edifiquemos para nós uma cidade, e uma torre cujo topo chegue até aos céus, e (observe bem) tornemos célebre o nosso nome. ” (Gênesis 11:4 o grife é meu)
Porque a torre estava sendo construída? Por egoísmo. Egoísmo puro, 100% de egoísmo. Os tijolos eram feitos de egos inchados e argamassa de orgulho. Os homens estavam dando suor e sangue por uma coluna. Por quê? Para que o nome de alguém pudesse ser lembrado.
Temos um nome para isso: ambição cega. Sucesso a todo custo. Tornar-se uma lenda em sua própria geração. Subir a escada até o topo. Rei da montanha. Topo da pilha. “Fiz as coisas a meu modo.”
Fazemos heróis das pessoas ambiciosas. Nós as apresentamos como modelo para nossos filhos e colocamos suas fotos nas capas de nossas revistas.
E isso está certo. Este mundo estaria em más condições se não houvesse quem sonhasse em tocar os céus. A ambição é aquele toque na alma que cria o desencanto com o que é comum e coloca a ousadia em nossos sonhos.
Mas se não for refreada ela pode tornar-se um insaciável apego ao poder e ao prestígio; uma fonte devastadora de realização que devora as pessoas como um leão devora um animal, deixando para trás só os remanescentes esqueléticos dos relacionamentos.
Os exemplos clássicos da construção pouco perspicaz de uma torre são rapidamente lembrados. Você vai reconhecê-los, talvez bem demais.
O marido que alimenta sua carreira com um trabalho de doze horas por dia, viagens aéreas repetidas e desculpas por ficar tanto tempo fora. “Mas é só questão de tempo e tudo vai entrar nos eixos.”
A mãe de três crianças que nunca perde oportunidade para servir num comitê ou comparecer a um almoço. “E tudo por uma boa causa”, ela se engana a si mesma.
“Só preciso fazer isto esta vez”, justifica o vendedor ao mentir sobre o seu produto. Qualquer coisa para chegar ao alto da torre.
Ambição cega. Valores distorcidos.
O resultado? Vidas desarraigadas, vacilando como capim ao vento numa cidade-fantasma. Sonhos abandonados. Lares esfacelados. Futuros destruídos. Tudo com uma coisa em comum: uma torre semi-acabada que permanece como um epitáfio comovente para aqueles que vêm depois.
Deus não tolera isso. Ele não tolerou então e não vai tolerar agora. Ele tomou a “Campanha da Subida ao Céu” em suas mãos. Com um só toque ele pintou a torre de um cinzento de confusão e enviou os obreiros balbuciando palavras ininteligíveis em todas as direções. Ele tomou a maior realização do homem e a soprou no vento como a criança sopra o dente-de-leão.
Você está construindo alguma torre? Examine os seus motivos. E lembre-se da frase gravada na base da Torre de Babel destruída: A ambição cega é um passo gigantesco de afastamento de Deus e um passo mais próximo da catástrofe.
Veja também de Max Lucado A Parábola dos Trabalhadores e
O Cristão e o Trabalho – Um Esboço