Amor de mãe — empatia de amigo

de Max Lucado

Theresa Briones é um amor de mãe. Ela também tem sempre preparado um soco de esquerda poderoso, que usou uma vez para bater numa mulher na lavanderia.

Por que ela faria isso?

Algumas crianças costumavam caçoar da filha de Theresa, a Alicia.

Alicia é careca e tem artrite nos joelhos, seu nariz é amassado, os quadris desconjuntados e mal consegue ouvir. Possui a energia de uma pessoa de 70 anos, mas, na verdade, tem apenas 10.

Manhêêê! — as crianças escarneciam — Venha ver o monstro!

Alicia pesa apenas 10 quilos e é mais baixa do que a maioria das crianças da escola. Sofre de progéria, uma doença genética de envelhecimento que ataca uma criança entre 8 milhões. A expectativa de vida das vítimas de progéria é de 20 anos. Há apenas quinze casos conhecidos dessa doença em todo o mundo.

— Ela não é um E.T., nem um monstro —, defendia Theresa. — Ela é igualzinha a vocês e a mim.

Psicologicamente, Alicia é uma aluna de terceira série, muito meiga e alegre. Tem uma longa lista de amigos, assiste televisão numa cadeira de rodas pequena e oscilante, brinca de Barbie e caçoa de seu irmão mais novo.

Theresa vem amadurecendo acostumada aos olhares e perguntas. É paciente com a constante curiosidade alheia. Perguntas autênticas ela aceita, mas calúnias inconvenientes não.

A mãe das crianças curiosas se aproximava para investigar: – Já vi essa “coisa”, dizia para os filhos.

– Minha filha não é uma “coisa”, — respondeu Theresa e depois esmurrou a mulher.

Quem poderia culpá-la? É assim mesmo a natureza do amor familiar. Mães e pais possuem uma habilidade dada por Deus de amar seus filhos, independentemente das imperfeições. Não porque são cegos; pelo contrário, eles enxergam muito bem.

Theresa enxerga o defeito de Alicia tão bem quanto qualquer um, mas vê também o valor de sua filha.

Assim também é Deus: ele nos vê com os olhos de um pai, vê nossos defeitos, erros e vícios. No entanto, ele também vê nosso valor. Eu encerrei dois capítulos atrás com uma questão: O que Jesus sabia que o permitiu fazer o que fez?

Aqui está uma parte da resposta: ele conhecia o valor das pessoas. Sabia que cada ser humano era um tesouro e, por causa disso, as pessoas não eram uma fonte de estresse, mas uma fonte de alegria.

Quando Jesus chegou à costa de Betsaida, deixou o mar da Galiléia e pisou no mar da humanidade. Tenha em mente que ele cruzou o mar para fugir das multidões. Precisava pensar, queria descansar com seus seguidores, necessitava de tudo, menos de outra multidão com milhares de pessoas para ensinar e curar.

Porém, seu amor pelas pessoas se sobrepôs à necessidade de descansar:

“Quando Jesus saiu do barco e viu a grande multidão, teve muita pena do povo e curou os doentes.”

“Quando Jesus saiu do barco, viu uma grande multidão e sentiu muita pena deles, pois eram como ovelhas sem pastor.” 2

“Ele os recebeu bem, falou-lhes a respeito do reino de Deus e curou os que precisavam de cura.”

Não é muito provável que alguém na multidão pensasse em perguntar a Jesus como ele estava. Não há indicação de que alguém estivesse preocupado com os sentimentos dele; ninguém estava ali para dar — todos queriam receber.

Em casa, chamamos o horário das 5 da tarde de “hora da mordida”. Essa é a hora do dia que todo mundo quer um pedaço da mãe. Sara, a bebê, fica faminta; Andrea quer que a mãe leia um livro para ela; Jenna quer ajuda com a lição de casa; e eu, o marido sempre amável e sensível, quero que Denalyn deixe tudo e converse comigo sobre o dia que tive.

Qual é a “hora da mordida” para você? Quando é que as pessoas, na sua vida, exigem muito e oferecem pouco?

Todo chefe já teve um dia em que os requerimentos ultrapassaram os resultados. Não há um empresário sequer que não tenha ficado sobrecarregado, cheio de tarefas a cumprir sobre a mesa. Para o professor, a “hora da mordida” sempre começa quando o primeiro aluno entra e termina quando o último sai.

As horas da mordida afetam os pais, obrigam os chefes a lidarem com elas, importunam as secretárias, atacam os professores. E Jesus nos ensinou como passar por elas de maneira bem-sucedida.

Quando as mãos estavam estendidas e as vozes clamavam, Jesus respondeu com amor. Fez isso porque o código dentro dele desarmou o alarme. Esse código é digno de ser notado: “As pessoas são preciosas”.

Alguém pode estar levantando alguma objeção a esse ponto:

— Mas foi mais fácil para Jesus, pois era Deus. Ele podia fazer mais do que eu posso fazer; além disso, ele era divino.

Verdade, Jesus era tanto homem como Deus, mas não despreze tão rapidamente o que ele fez. Considere sua resposta de amor por um outro ângulo.

Considere que, junto com sua força sobrenatural, ele também tinha uma consciência santa. Não havia segredos na montanha naquele dia; Jesus conhecia os corações das pessoas. Ele sabia por que elas estavam lá e o que buscavam.

Mateus escreve que Jesus “curou os doentes”. 5 Não curou alguns dos doentes, nem os de coração reto entre os doentes, mas os doentes.

Com certeza, em meio a muitos milhares, havia pessoas que não mereciam a cura.

A mesma divindade que deu a Jesus o poder de curar também deu a ele o poder de discernir. Eu me pergunto se Jesus foi tentado a dizer ao seqüestrador: “Curar você? Depois de tudo o que fez?”. Ou ao que abusa de crianças: “Por que eu deveria restaurar sua saúde?”. Ou para o intolerante: “Saia daqui e leve sua arrogância junto com você”.

E ele era capaz de ver não só o passado daquelas pessoas, mas o futuro também.

Sem dúvidas, na multidão havia aqueles que usariam da saúde novinha em folha para atacar outros. Jesus libertou línguas que um dia amaldiçoariam, deu visão a olhos que praticariam a inveja, curou mãos que matariam.

Muitos daqueles que ele curou nunca iriam dizer “obrigado”, mas mesmo assim ele os curou. A maioria estava mais preocupada em ser curada do que em ser santa. Mas, mesmo assim, Jesus os curou. Alguns que pediam por pão hoje, clamariam por seu sangue alguns meses depois, mas ele os curou mesmo assim.

Jesus escolheu fazer o que você e eu raramente, ou nunca, escolheríamos fazer. Ele escolheu presentear as pessoas, sabendo muito bem que esses presentes poderiam ser usados para o mal.

Não seja tão rápido em atribuir a compaixão de Jesus a sua divindade. Pense nos dois lados: cada vez que Jesus curou, ele tinha de olhar para o futuro e para o passado.

Algo que, a propósito, ele ainda faz.

Você já notou que Deus não lhe pede para provar que vai usar bem seu salário? Já notou que Deus não desliga seu suprimento de oxigênio quando você faz mal uso de seus presentes? Não está feliz por saber que Deus não lhe dá somente o que você se lembra de agradecer-lhe? (Já faz tempo que você agradeceu a Deus pelo seu mau humor? Para mim já faz, mas eu ainda o tenho.)

A bondade de Deus é estimulada pela sua natureza, não pelo nosso merecimento.

Alguém perguntou a um amigo meu:

— Que precedente bíblico nós temos para ajudar a um pobre que não tem desejo nenhum de se tornar cristão?

Meu amigo respondeu com apenas uma palavra:

— Deus.

Deus faz isso diariamente por milhões de pessoas.

O que Jesus sabia que o permitiu fazer o que fez? Qual era o código interno que o manteve calmo, sem estourar em caos total? Ele conhecia o valor das pessoas.

Curiosamente, a pressão vista naquele dia não estava na face de Jesus, mas nas faces dos discípulos. “Despeça estas pessoas” 6, eles pediam. Pedido muito justo.

— Depois de tudo, continuavam dizendodepois de os ter ensinado, curado, o senhor os acomodou. E agora eles estão ficando com fome. Se não os despedirmos, vão querer que os alimente também!

Queria poder ter visto a expressão dos discípulos quando ouviram a resposta do mestre:

— Não precisam retirar-se; “por que vocês mesmos não lhes dão alguma coisa para comer?”.7

Eu costumava achar que este era um pedido retórico. Pensava que Jesus sabia que os discípulos não podiam alimentar a multidão, mas mesmo assim pediu para eles o fazerem. Achava que fosse um teste para ensiná-los a confiar a Deus o que eles não poderiam fazer.

Não penso mais assim.

Eu ainda acho que foi um teste; não para mostrar o que eles não podiam fazer, mas para demonstrar do que eles eram capazes. Depois de terem andado pelas redondezas conseguindo fazer o impossível, Jesus lhes pedia para fazer aquilo novamente: “Por que vocês mesmos não lhes dão alguma coisa para comer?”.8

Gostaria de poder dizer que os discípulos fizeram o que ele pedira. Gostaria de poder dizer que eles sabiam que Deus não lhes pediria algo que não pudesse dar-lhes poder para realizar. Dessa forma eles poderiam alimentar a multidão. Gostaria de poder dizer que os discípulos, de maneira milagrosa, alimentaram os cinco mil homens, mais mulheres e crianças.

Mas não posso dizer nada disso… porque eles não o fizeram.

Em vez de olhar para Deus, eles olharam para suas carteiras.

— Vamos precisar de oito meses de salário! Iremos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer? 9

— O senhor deve estar brincando!

— Não pode estar falando sério!

— O senhor sabe quantas pessoas estão aguardando por isso?

Estavam com os olhos esbugalhados e os queixos caídos. Um ouvido atentava ao barulho da multidão, o outro à ordem de Deus.

Não ignore as visões contrastantes. Quando Jesus viu as pessoas, enxergou uma oportunidade para amar e afirmar seus valores. Quando os discípulos viram as pessoas, enxergaram milhares de problemas.

Outra coisa, não deixe passar a ironia. No meio de uma padaria, na presença do Padeiro Eterno, eles disseram ao “Pão da vida” que não havia nenhum pão.

Como parecemos tão inocentes a Deus!

Deus poderia ter desistido. Este é o momento do dia estressante em que Jesus poderia ter explodido. A tristeza, as ameaças da vida, o entusiasmo, as multidões, as interrupções, as exigências e agora isso. Seus próprios discípulos não podiam fazer o que ele lhes pedira. Em frente aos cinco mil homens, eles o entristeceram.

— Faça-me desaparecer, Pai — deveriam ter sido as palavras seguintes de Jesus, mas não foram. Em vez disso, ele perguntou:

— Quantos pães vocês têm?

Os discípulos lhe trouxeram a refeição de um garoto. Uma lancheira tinha se tornado um banquete, e todos foram alimentados. Nenhuma palavra de repreensão foi dada, nenhum levantar raivoso de sobrancelhas foi notado, nenhum discurso — do tipo: “Eu não disse?” — foi liberado. A mesma compaixão que Jesus teve para com a multidão foi estendida aos seus amigos.

Atente para o dia dele mais uma vez, veja o que ele encarou.

Tristeza intensa – a morte de um amigo e parente querido.

Ameaça imediata – seu nome estava no cartaz de “Procura-se”.

Alegria imensurável – um regresso ao lar com seus seguidores.

Grandes multidões – um rio de pessoas o seguiam para onde quer que fosse.

Interrupções inconvenientes – ele buscava descanso e encontrou pessoas.

Exigências incríveis – milhares e milhares clamavam por seu toque.

Assistência nula – a única vez que pediu por ajuda, obteve dezenas de expressões como: “O senhor está pedindo demais”.

Mas a calma que Cristo teve nunca se transformou em ira. O alarme nunca soou. O que Jesus sabia que o capacitou a fazer o que fez? Ele conhecia o alto valor das pessoas. Como conseqüência:
•Ele não mudou de direção e tomou rumo próprio.
•Ele não disse aos discípulos para encontrar outra praia onde não houvesse pessoas.
•Ele não perguntou à multidão por que não tinha trazido sua própria comida.
•Ele não mandou os apóstolos de volta ao campo para mais treinamento.
•E o mais importante, ele permaneceu calmo no meio do caos. Ele até mesmo parou em meio a toda aquela circunstância para fazer uma oração de agradecimento)

Um garoto entrou numa loja de animais de estimação, procurando por um filhote de cachorro. O dono da loja lhe mostrou uma cria dentro de uma caixa. O garoto olhou os filhotes, pegou um por um, examinou e colocou de novo na caixa.

Depois de algum tempo, foi até o dono novamente e disse:

— Já escolhi um, quanto vai custar?

O dono lhe disse o preço e o garoto prometeu voltar logo com o dinheiro:

— Não demore muito, – avisou o dono – filhotes como esses são vendidos rapidamente.

O garoto se virou e deu um sorriso confiante:

— Não estou preocupado, — disse ele — o meu ainda vai estar lá. – E foi atrás de algum trabalho: soldar, lavar janelas, limpar jardins. Ele trabalhou duro e economizou dinheiro, e assim que conseguiu o bastante para comprar o cachorro, retornou à loja.

Foi até o balcão e ali colocou um pacote com um maço de notas. O dono da loja as separou e começou a contar o dinheiro. Depois de verificar o valor, sorriu para o garoto e disse:

— Tudo bem, filho, pode ir pegar seu cachorrinho.

O garoto foi até o fundo da caixa, pegou um cachorro magricelo, com uma perna manca e começou a deixar a loja. O dono então o interrompeu:

— Não leve esse filhote. advertiu Ele é aleijado, não pode brincar. Não vai correr com você, nem buscar o osso que atirar. É melhor escolher um que esteja em bom estado.

— Não senhor, obrigado, o menino respondeu este é exata-mente o tipo de cachorro que estou procurando.

Quando o garoto se virou para sair, o dono da loja ia começar a falar, mas ficou em silêncio. De repente, quando caiu em si, viu que na barra da calça do menino tinha um suporte, um suporte para sua perna aleijada.

Por que o menino quis aquele cachorro? Porque ele sabia como o animal se sentia e sabia que ele era especial.

O que Jesus sabe que o capacitou fazer o que fez? Ele sabia como as pessoas se sentiam e sabia que elas eram especiais.

Espero que nunca se esqueça disso.

Jesus sabe como você se sente. Você está sob a mira no trabalho? Jesus sabe como se sente. Você tem coisas para fazer que transcendem suas forças? Ele também sabe. Você tem filhos que transformam seu jantar na “hora da mordida”? Jesus sabe o que é isso. As pessoas querem receber de você mais do que podem lhe oferecer? Jesus entende. Seus adolescentes não escutam o que fala? Os alunos não tentam acertar? Os empregados não cumprem as atividades que mandou desempenharem? Acredite em mim, amigo, Jesus sabe como se sente.

Você é precioso para ele, tão precioso que ele se tornou como você para que pudesse achegar-se a ele.

Quando você passa por lutas, ele vê. Quando deseja alguma coisa, ele responde. Quando pergunta, ele ouve. Está sempre lá. Você já ou-viu isso antes, mas precisa ouvir novamente.

Ele o ama com o mesmo amor de Theresa Briones.

Ele o entende com a compaixão do menino aleijado.

Como Theresa, ele batalha com o próprio inferno para lhe proteger.

E, como o menino fez, ele paga um alto preço a fim de levá-lo para casa.

– Veja também de Max Lucado “O Amor de Deus e o Amor de Mãe”.



[Para mais meditações de Max Lucado visite a página oficial de Max em Português www.maxlucado.com.br]

do livro “Um Dia na Vida de Jesus” de Max Lucado, Copyright 2002, Editora Vida Cristã, São Paulo – SP.

Assine o Devocional
Jesus Disse

365 dias nas palavras de Jesus.
É gratuito! Insira seu Email aqui:

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o nosso site e as páginas que visita. Tudo para tornar sua experiência a mais agradável possível. Ao clicar em 'Aceitar', você consente com a utilização de cookies.