A Benevolência do Cristão e da Igreja
de Dennis Downing
O que é que você sente quando alguém chega para você na rua e pede esmola?
O que é que você pensa quando alguém chega na sua casa e bate palmas, pedindo alimentos?
Desconfiança?
Será que é ladrão?
Aonde ele/ela vai gastar este dinheiro?
Será que esta pessoa vai desperdiçar o que eu der?
Será que ela está pedindo comida porque gastou o dinheiro em coisas fúteis como jogos de azar, bebida, drogas?
A grande pergunta que, cuja resposta nesta hora sempre queremos saber é: “O que é que ela vai fazer com meu dinheiro?
Você quer saber se seu dinheiro vai ser jogado fora, ou usado em coisas erradas, ou se vai ser gasto em algo que a pessoa realmente precisa.
Antes de fazer esta pergunta, como seria se fizéssemos algumas outras perguntas para nós mesmos?
1. Como seria se Deus agisse assim em relação a nós cada vez que nós gastamos o dinheiro que temos?
Vamos supor que eu vou dar R$5 para a pessoa pedindo de mim. Se eu souber que ela vai gastar 50 centavos em comida e R$4.50 em jogos de azar, eu não devo dar, certo? (Eu não quero ela jogando fora dinheiro em coisas fúteis.)
Imagine agora, Deus olhando para mim. Dificilmente eu dou mais de 50 centavos para um mendigo. Mas, se eu gastar R$15 em um CD de música ou você gastar por um par de brincos ou uma revista de moda ou notícias da semana, como fica?
No final das contas, qual a diferença nos olhos de Deus, entre eu, ou você, e o mendigo?
Ele não precisava do jogo de azar.
Mas, eu não precisava daquele CD ou você daquele par de brincos ou aquela revista.
De fato, se paramos para pensar, qual é pior?
Um homem que só tem $R5 para comer e come mau, ou um homem que, em comparação, tem muito dinheiro, poderia ajudar muitos pobres a comerem, mas usa seu dinheiro em coisas fúteis e desnecessárias?
Se eu espero que os poucos pobres que eu vou ajudar ao meu redor usem da forma mais responsável seu pouco dinheiro, qual a lógica que me dá o direito de usar de forma irresponsável o dinheiro que eu tenho, só porque tenho bastante?
2. Pensamos ainda naquela pessoa que chega pedindo dinheiro ou comida.
Nem todo mundo que está desempregado, pedindo esmola ou comida, etc. é ladrão ou preguiçoso.
Nas igrejas onde servi, já vimos vários irmãos e irmãs que sairiam de seu emprego, um emprego bom, com bom salário porque recusaram mentir. Já vimos vários irmãos perderem um salário excelente, porque recusaram trabalhar com “caixa dois” ou outra falcatrua.
Há vários irmãos, que, por serem honestos e corretos não conseguem emprego.
Outros não aceitam certos empregos porque prejudicaria sua vida espiritual.
Outros, como meu irmão, porque resolveram, ao em vez de dar um calote, fazer a coisa certa, acabam com grandes dívidas que levam anos para pagar.
Preguiçoso? Irresponsável?
Vemos entre nós, Cristãos honestos, bons, trabalhadores, que estão sofrendo as conseqüências de grandes mudanças na economia e na sociedade.
Há muitas outras pessoas lá fora, sofrendo da mesma forma, sem merecer, sem ter feito nada de errado, mas simplesmente porque ficaram desempregados e não conseguem trabalho nenhum.
Ficamos naturalmente desconfiados de estranhos.
Mas, deveríamos lembrar, muitos destes estranhos são pessoas boas, honestas e trabalhadores, como nós, mas que simplesmente perderam tudo ou quase tudo e estão precisando de ajuda.
Eles estão pedindo porque não querem roubar.
Mas, se aqueles que mais deveriam ajudar, que mais do que o governo ou a sociedade, tem um mandato para ajudar os necessitados se aqueles (nós) viram as costas, será que devemos ficar surpresos com o aumento na violência no país todo?
Vamos fazer, cada um, o que pode para acolher e ajudar o necessitado, primeiro dos da família da fé, mas, também daqueles que não tem mais para onde virar.
Se não podem virar para Deus e sua família, para onde virão?
Acredito que a grande maioria de nós tentamos ser bons despenseiros dos recursos que Deus colocou à nossa disposição. Nós vemos tantos necessitados ao nosso redor e ficamos frustrados, porque queremos ajudar, mas não sabemos como e até ficamos desanimados vendo tantos que carecem de tanta coisa básica.
Mas, acredito que quase todos nós temos como melhorar.
Hoje, você pode pensar que não tem dinheiro o suficiente para suas próprias necessidades, mas amanhã pode ser diferente.
A medida que a qualidade de vida melhora, nossa responsabilidade aumenta.
Em 1988 quando comecei a trabalhar com uma congregação no centro de Recife, não chegava a ter três carros no estacionamento. Hoje tem domingo com mais de 20 carros.
Deus tem aumentando não somente o patrimônio da Igreja, mas, de seus membros, graças ao Senhor. Mas, a medida que os nossos bens aumentam, aumenta também a tentação de gastar nosso dinheiro e de usar de forma irresponsável outros recursos que o Senhor nos dá.
É verdade que Deus tem todo o dinheiro no mundo.
Às vezes, pensamos que não devemos pensar demais em dinheiro porque isso limita nossa visão.
Eu sei que há outros meios e recursos.
Se Deus quiser Ele providencia recursos para construir cem congregações em qualquer cidade.
Isto é verdade.
Mas, só porque Deus pode fazer isso, não nos dá liberdade de usar de forma irresponsável ou pouco pensado os recursos que temos e esperar que os outros é que devem ajudar.
Em seguida, vamos examinar algumas dúvidas a respeito do uso do dinheiro de Cristãos.
I. Uma dúvida: Deus não disse que sempre haveria pobres?
João 12:8 “Porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim, nem sempre me tendes;”
Deut 15:11 “Pois nunca deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno: livremente, abrirás a tua mão para o teu irmão, para o necessitado, para o pobre na tua terra.”
O contexto do pronunciamento de Jesus sobre a pobreza foi de Maria de Betânia ungindo os pés de Jesus.
Jesus defende o ato carinhoso de Maria, dizendo que o tempo dele entre os discípulos é curto, e por isso o ato dela é válido.
O ponto dEle não é de minimizar a benevolência aos pobres, mas, de enfatizar a importância de um ato de amor feito para ele e questionado pelos discípulos.
Notamos também que o contexto da citação de Jesus (Deut 15:11) é justamente da necessidade de ajudar os pobres e necessitados e não de poder ignorá-los.
Notamos que quem acabou sendo reprovado foi o próprio Judas, que dava mais valor ao dinheiro do que ao Mestre.
Maria, cuja família evidentemente tinha bens, não fechou sua mão para a ajuda que o Senhor precisava. Devemos lembrar que o mesmo Jesus disse que quando ajudamos pessoas que faltam comida, moradia ou roupa, estamos ajudando ele “Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” – Mateus 25:40
II. Outra dúvida: Paulo não disse “quem não trabalhe, não come”?
2 Tess 3:10 “se alguém não quer trabalhar, não coma.”
Paulo não disse que quem “não trabalha” não deve receber ajuda, mas que quem“não quer” trabalhar não deve receber ajuda.
O contexto foi uma situação em que membros da igreja em Tessalônica que eram preguiçosos e desocupados, davam um mau testemunho do Cristianismo.
Há muitos Cristãos que querem trabalhar, mas, não conseguem emprego.
– Irmãos que recusam mentir ou fazer caixa dois.
– Irmãos que perderam emprego sem motivo.
– Irmãos no interior do estado, miséria e pobreza em geral.
É verdade que aquele que não quer trabalhar não deve receber ajuda, mas, também devemos lembrar que aquele que trabalha,(e que, graças a Deus conseguiu um trabalho), trabalha para que ele possa ajudar o necessitado. Ele deve cumprir um mandato para ajudar.
Efésios 4:28 “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com suas próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado.”
É bom nos preocuparmos com o trabalho dos outros e se realmente devem ser ajudados. Mas, é igualmente importante examinarmos as nossas próprias vidas e nos perguntar, será que estou cumprindo com meu dever, já que, graças a Deus, eutenho emprego?
III. Outra dúvida: Quem deve ser ajudado?A Bíblia não diz para ajudar “principalmente” os irmãos?
Gal 6:10 “façamos o bem a todos, mas, especialmente aos da família da fé.” (NVI)
Paulo de fato diz para ajudar “a todos.” Quando ele diz “especialmente” ou “principalmente” é com ênfase, mas não exclusividade.
1 Tim 5:8 “se alguém não cuidar dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente.”
É para só cuidar dos membros da sua própria família? Não.
Mas, é para começar a cuidar deles e também ajudar os outros.
É uma questão de prioridade e não de escolher entre um ou outro. A pergunta não é ou Cristão ou não-Cristão, mas Cristão primeiro e depois o não-Cristão.
Devemos ajudar até nossos inimigos: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber…” – Rom 12:20. Se até os nossos inimigos devemos ajudar, é claro que estão incluídas todas as outras pessoas que encontramos, sendo Cristão ou não.
Quando Jesus mandou o “jovem rico” vender tudo que tinha, ele disse “vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu…” Mat 19:21
É interessante notar que Jesus não disse dar aos pobres crentes ou os pobres discípulos. Ele simplesmente disse “dá aos pobres.”
Concluímos esta mensagem vendo o seguinte:
Deus tem sido não somente bondoso, mas, paciente conosco. Por mais que tenhamos tentado ser bons despenseiros, todos devem reconhecer que poderiam administrar melhor seus bens.
Há pessoas ao nosso redor que, por falta de boa administração às vezes acabam perdendo todos seus bens. Outros, quando recebem algo, não sabem gastar bem. Isto nem sempre é por pura má vontade. Muitas vezes, é pura falta de preparo.
Nós Cristãos, beneficiados pela amor e paciência de Deus para conosco, devemos ser os primeiros a ajudar os outros quando precisam.
Mesmo sempre havendo pobreza e muita pobreza ao nosso redor, isto não nos ausenta de responsabilidade. Pelo contrário, temos que nos esforçar mais ainda.
Quando pessoas recusam se esforçar ou tentar trabalhar, a Bíblia diz claramente que não devem receber ajuda. Mas, é preciso ter muito cuidado em determinar quando isto é o caso. E, não sendo o caso, devemos estar sempre prontos para ajudar.
A responsabilidade de ajudar os necessitados se estende primeiro à família própria, depois à família da fé e finalmente a todos ao nosso redor.
Uma bênção muitas vezes escondida de nós e que, ajudando um desconhecido que talvez nunca mais veremos nesta vida, podemos um dia ser surpreendido pelo próprio Jesus revelando que foi a Ele mesmo que damos ajuda.
Que Deus nos ilumine e enche os nossos corações com o desejo de imitar nosso bom Mestre em ajudar a quem puder enquanto estamos aqui.
Para semana, Deus permitindo, examinaremos mais dúvidas sobre o Cristão, a Igreja e o uso do dinheiro.
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