Qualé o significado aqui?
de Tremper Longman III
Numa comédia que assisti há pouco tempo, o personagem principal aproximou-se da garota de seus sonhos e perguntou-lhe: “Mary, na sua opinião, que chances teria um cara como eu de ficar com uma garota como você?
“Bem, John, diria que seria uma em um milhão.”
Ouvindo isso, John deu um enorme sorriso. Com um grande alívio ele exclamou: “Puxa… você está dizendo que existe uma chance!”
ENTENDA CORRETAMENTE
John interpretou as palavras de Mary — e entendeu-as de forma completamente errada. Isso já aconteceu com você?
Não seria exagero dizer que vivemos constantemente interpretando. Desde o momento em que começamos nosso dia, interpretamos o humor, conversas, o jornal da manhã, os sinais de trânsito, a expressão do rosto do nosso chefe. Alguns desses atos de interpretação são tão naturais e freqüentes que não pensamos quando agimos. Nesta manhã, enquanto eu dirigia, vi o sinal vermelho e parei sem pesar os prós e contras.
Em outros casos, a interpretação dá trabalho. Na conversação sempre pedimos esclarecimentos e aperfeiçoamento a fim de podermos realmente compreender o que eles estão tentando nos comunicar. Queremos compreender exatamente o que eles pretendem dizer (a menos que, como John, estivermos mais interessados em ouvir apenas o que queremos ouvir).
Livros e outras formas de texto são até mesmo mais difíceis de interpretar. Estamos engajados numa conversação com o autor, entretanto o autor não está lá para responder quando procuramos esclarecimentos. Não temos o luxo de perguntar a Sheakespeare sobre o que ele estava falando num parágrafo particularmente obscuro de Hamlet.
Semelhantemente, a Bíblia demanda toda a nossa energia interpretativa se estivermos prontos a compreender o seu significado correto. Primeiro, ela nos incentiva ao diálogo com um grande número de autores humanos, de Moisés, que viveu por volta do ano 1500 a.C., a João, que viveu no final do primeiro século. Mais importante ainda é que a Bíblia nos leva a conversar com Deus. Por razões como essas é que necessitamos de uma interpretação precisa— uma compreensão das Escrituras que coincida com a intenção divina.
Isso, entretanto, levanta um problema. Não é sempre fácil compreender a Bíblia. Dê uma olhada rápida no episódio registrado em Êxodo 4.24-26, por exemplo. Uma versão bíblica como a The New Testament Version dá nomes que não estão no texto hebraico para tornar o texto muito mais claro. Porém, nem mesmo o estudioso de hebraico mais experiente teria segurança em dizer o que Zípora está fazendo, ou aos pés de quem ela lançou o prepúcio — e de quem era o prepúcio.
Até mesmo quando o texto parece estar certo, podemos não ter muita segurança acerca de sua interpretação. As palavras de Eclesiastes 7.16-18 são fáceis o bastante de ler e compreender:
Não sejas demasiadamente justo,
nem exageradamente sábio;
por que te destruirias a ti mesmo?
Não sejas demasiadamente perverso,
nem sejas louco;
por que morrerias fora do teu tempo?
Bom é que retenhas isto e também daquilo não retires a mão;
pois quem teme a Deus de tudo isto sai ileso.
Mas, poderia o Mestre realmente estar querendo dizer que não deveríamos ser perversos demais ou justos demais? Ele está na verdade advogando o significado literal — que um pouco de maldade faz bem à alma?
Até mesmo quando entendemos a passagem corretamente, podemos falhar por deixar de ver o seu lugar no resto da Bíblia e distorcer sua aplicação. Por exemplo: podemos ler o discurso dos três amigos de Jó c cometer o erro fatal de aplicá-los como um ensino bíblico normativo. Quando Zofar declarou em Jó 20.5: “O júbilo dos perversos é breve, e a alegria dos ímpios momentânea”, podemos erroneamente questionar a razão dos nossos vizinhos ateus gozarem de prosperidade material e felicidade durante todo o tempo em que os conhecemos.
Cada um de nós deseja tratar a Palavra de Deus com o respeito que ela merece; e, com certeza, não gostaríamos de ler coisas que não estão nela escritas. Por essas razões, temos de aplicar os princípios básicos da hermenêutica — a ciência da interpretação — quando lemos a Bíblia. Esses princípios não são leis fixas, e nunca deveriam ser aplicados mecanicamente como um tipo de exercício acadêmico. Entretanto, quando usados de uma forma sábia, podem ajudar qualquer pessoa a compreender melhor o significado pretendido pelas Escrituras.
[Nas próximas semanas, Deus permitindo, iremos reproduzir nesta seção sete princípios básicosde hermenêutica do livro“Lendo a Bíblia com O Coração e a Mente” de Tremper Longman III.]
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O livro de Tremper Longman III do qual este texto foi extraído, “Lendo a Bíblia com O Coração e aMente“, pode ser encomendado da Editora Cultura Cristã selecionando a capa do livro ao lado: